Eu, Deficiente


Nasci de um jeito
Um Jeito especial
Eu tenho síndrome de down

Eu não sou alérgico
Eu não sou patético

Eu sou paraplégico

Eu não consigo te dar um abraço
Eu não consigo dar laço
Eu nasci sem meus braços.

sim, somos diferentes
Somos deficientes
Mas também somos gente!


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Quem sou eu

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SANTA Mª DA BOA VISTA, PE, Brazil
Sou muito simples. Gosto de amizade sincera. Adoro o Deus que sirvo e amo minha família. Tenho Licenciatura em geografia desde 2000. Concluir minha pós em 2004 na área de Psicopedagogia, Sou concursada como professora de 1ª a 4ª e como professora de 5ª a 8ª em Geografia. Tenho experiência de 4 anos na Biblioteca Municipal da minha cidade. Trabalho como professora de educação Especial desde 1996, sou pioneira da área de educação Especial de santa Maria da Boa Vista.Atualmente, faço Atendimentos de AEE Infantil para 10 alunos de 3 a 9 anos, matriculados no Ensino Regular. Hoje posso dizer que realmente achei meu lugar, profissionalmente falando: Sou professora de Educação Especial com orgulho!!!

domingo, 4 de abril de 2010

O PSICOPEDAGOGO e a Inclusão

Emilia Coimbra(Psicopedagoga) e Patricia Costa(Coordenadora de AEE)


A Psicopedagogia como área de estudo e de atuação, responsável pela aprendizagem e suas dificuldades, tem importantes tarefas diante do fenômeno da exclusão escolar de pessoas que apresentam dificuldades com a aprendizagem.
A primeira delas diz respeito à necessidade da "dificuldade" no processo de aprender; sem ela não há desequilíbrio e, conseqüentemente, busca de equilíbrio para a aprendizagem.
A dificuldade só é motivo de preocupação quando é muito intensa e freqüente, geradora de um obstáculo tão grande que impeça ou dificulte a aprendizagem de alguém.
Mesmo nestes casos, a dificuldade não deve ser motivo de exclusão. Sabemos que os grupos humanos são compostos por pessoas diferentes, com graus de compreensão distintos e com áreas de mais dificuldades e de mais facilidades, também diferenciadas.
A grande dificuldade, aquela obstaculizadora à qual nos referimos antes, encaminha-nos para a segunda tarefa da Psicopedagogia neste estudo: compreender o contexto no qual a exclusão ocorre e a ótica de mundo, de ser humano e de educação que sustenta esta ação.
A exclusão e o tipo de dificuldade a ser excluída vai depender da tendência educacional de determinado grupo, instituição, comunidade ou cultura.
Em grupos que possuem uma visão multifacetada do ser humano, do mundo e de ensino / aprendizagem, e que vêem cada faceta de forma separada, descontextualizada e especializam-se em cada uma delas, a dificuldade pode ser compreendida como uma dificuldade esperada pois, afinal de contas, temos tantas facetas que temos o direito de não nos darmos bem em algumas delas.
A idéia de múltiplas inteligências, tão divulgada hoje em dia, tem este modo multifacetado de ver o mundo, o ser humano e a aprendizagem; em muitas interpretações, as dificuldades não são consideradas.
Valoriza-se as facilidades, muitas vezes, em detrimento do crescimento do sujeito em aspectos nos quais apresenta dificuldades.
A forma de incluir, neste modo de pensar, é através da valorização das capacidades, o que pode desencadear uma visão fantasiosa do todo ou um "faz de conta" sobre a dificuldade, como se ela não existisse ou não fosse importante. Tal posição pode causar um comportamento de aprendizagem regido pelo princípio do prazer e fugitivo da realidade, fazendo com que o aprendiz não desenvolva condições de enfrentar dificuldades, nem aquelas necessárias para seu crescimento.
A valorização de possibilidades, capacidades e facilidades é fundamental em um processo de inclusão; porém, deverá ser verdadeira e contrapor as dificuldades para que estas possam ser minimizadas ou superadas.
Por outro lado, os grupos que possuem uma visão globalizadora do processo de ensinar / aprender, dos seres humanos e do mundo podem apresentar uma outra leitura da dificuldade de aprendizagem.
A globalização pode promover a aculturação, a idéia de que todos devem pensar, ouvir, vestir, imaginar, escolher, necessitar das mesmas coisas e, desta forma, pode fazer saltar aos olhos, muito rapidamente, aquele que se diferencia.
A percepção da dificuldade de aprendizagem, por exemplo, faz com que o grupo, a instituição, a comunidade ou a cultura se mobilizem para expelir aquele que pode estar representando um corpo estranho, capaz de ameaçar o funcionamento do todo.
O movimento de exclusão, nesta visão, é menos obscurecido do que na situação anterior, mas parece ser mais cruel pois, em nenhum momento, deixa espaço para a valorização da diferença. Ou o sujeito adapta-se à nova palavra de ordem, permitindo a colonização, a aculturação, a descaracterização etc. ou rebela-se, permitindo ser tratado como diferente e, rapidamente, ser alvo de intervenções para que fique igual a todos.
Foi justamente esta forma de ver a dificuldade de aprendizagem que nos fez inventar, durante a história da educação, uma educação especial muito competente, também excluída, capaz de manter uma camada de diferentes bem distante dos "iguais" ou de transformá-los em pessoas "iguais" para serem encaminhados ao convívio com a normalidade.
Apesar de uma visão globalizadora, incluir não significa, nesse caso, um processo conjunto, e sim um trabalho solitário de crescimento individual e de pequenos grupos para que, num segundo momento, conforme o desempenho, o direito de estar com todos possa ser conquistado.
A compreensão contextual, a que nos referimos nesta segunda tarefa, exige também uma reflexão sobre a instantaneidade e a morosidade que convivem na atualidade.
Neste mundo instantâneo, as crianças têm sido exigidas, forçadas no seu crescimento e, apesar do esforço de Piaget, em toda sua obra, para mostrar que a criança tem seu jeito próprio de ser e de se desenvolver, elas têm sido tratadas como adultas em miniaturas.
O mundo do consumo oferece a elas roupas de adultos em miniatura, para que se vistam; comidas dietéticas para que emagreçam depois de comerem tantas guloseimas desnecessárias, que o próprio mundo as instiga comer; linguagem empolada, excesso de explicação para que elas falem e ajam, muitas vezes sem entender o que dizem e o que fazem; calçados de salto alto para que aumentem alguns centímetros e, possivelmente, estraguem suas colunas e sua postura; programas educacionais para que aprendam antes o que estava previsto, pela própria idade, para ser aprendido depois; e assim por diante.
Espera-se, pelo visto, que as crianças se transformem em adultos e, por isso, acelera-se o processo, principalmente em programas educacionais particulares, fabricando uma série de problemas de aprendizagem que acabam por serem medicados, tratados como doenças.
Por outro lado, a morosidade das mudanças educacionais permite que se continue mantendo as dificuldades de aprendizagem como responsabilidade dos indivíduos e, portanto, e que se considere que as pessoas que apresentam distúrbios de atenção, de ação, de aprendizagem são doentes e precisam ser "curadas", medicadas, independente da participação do contexto nesta problemática.
A inclusão, neste contexto, é realizada através de artifícios que fazem com que as crianças tenham a atenção, também, igual à do adulto, a ação imobilizada e a aprendizagem aprisionada em uma única forma de processo.
A visão consumista de mundo imprime, na sociedade, um movimento de exclusão, de descarte e de valorização da praticidade, que acaba por encobrir a necessidade humana de se apegar ao conhecido para poder transformá-lo em algo novo.
Esta forma de ver o mundo é tão arraigada em nosso cotidiano que consideramos natural usar e jogar fora, sem nos importarmos com o entulho que este lixo vai formar e, voltando a incomodar a nós mesmos depois.
A naturalidade com que lidamos com a situação do descartável chega também ao estilo de aprendizagem dos aprendizes. Aprende-se, utiliza-se e descarta-se para que o novo conhecimento possa ser assimilado sem, necessariamente, ser conectado ao anterior. Na melhor das hipóteses, é um novo jeito de fazer história, se é que é possível fazê-la somente com rupturas.
A terceira tarefa, entre tantas outras, está relacionada às instituições que convivem com este movimento de exclusão das dificuldades e das diferenças, principalmente aquelas que estão próximas das dificuldades de aprendizagem: a escola e a família.
A Psicopedagogia pode auxiliar no enfrentamento da exclusão e na luta pela não exclusão através de pesquisas e produções científicas, orientação e ação pontual sobre as situações já existentes e prevenção tanto no grupo familiar, quanto escolar.
O psicopedagogo, portanto, precisa utilizar seu papel articulador para auxiliar no enfrentamento das dificuldades que o processo de inclusão pode trazer:
Entre as possíveis ações, a Psicopedagogia pode:
- propiciar a reflexão na escola, auxiliá-la a repensar seus valores e crenças com relação à diversidade e à igualdade;
- auxiliar os pais a pensarem sobre as dificuldades de seus filhos e perceberem se a insistência a respeito da inclusão não está atrelada à negação da dificuldade;
- conhecer o real potencial da criança a ser incluída e as possibilidades que o meio possui para estimular este potencial;
- não focar na doença, e sim nas possibilidades do sujeito e do contexto;
- auxiliar a escola a encontrar saídas metodológicas e avaliativas não exclusivas;
- divulgar uma proposta de trabalho grupal, descentralizador do papel do professor;
- divulgar o ensino pela pesquisa, para que todos possam participar, independente de suas dificuldades;
- indicar as possibilidades de adaptação de linguagens e materiais, quando isto for necessário.
O novo olhar que a Psicopedagogia possibilita necessita também de uma reflexão sobre o contexto sócio-político e sobre a diferença na sociedade. É preciso repensar sobre o papel do profissional da saúde e da educação na questão da inclusão.
As tarefas que aqui enumeramos devem estar articuladas a outras desta e de outras áreas e têm por objetivo a compreensão de que a contradição faz parte da vida humana e social. De nada adianta querermos eliminar o que consideramos negativo para, em outra dimensão, reproduzirmos a ação "hitleriana" e contarmos apenas com a perfeição e com o ideal.
O papel da Psicopedagogia e da Educação é o de instituir caminhos entre os opostos que

liguem o saber e o não saber, o acesso ao conhecimento e a falta desse acesso, a facilidade e a dificuldade, a rapidez e a lentidão e outros opostos que possam se apresentar em um processo de aprendizagem.
Estas ações devem acontecer no âmbito do indivíduo, do grupo, da instituição e da comunidade, visando a aprendizagem e, portanto, é também tarefa da Psicopedagogia.
O campo que se delineia é vasto; olhar a diferença sem perder a dimensão da igualdade é um dos maiores desafios educacionais neste século. A Psicopedagogia, como uma das áreas responsáveis pela aprendizagem, tem muito a aprender e muito a contribuir.



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